domingo, 3 de fevereiro de 2019

Falta de tempo

Constato que deixei de escrever por aqui.
Falta de tempo, o que é um paradoxo quando sinto que o meu tempo está a acabar.
Nunca o senti antes, como o sinto hoje.
É a falta de ar, o cansaço, o esforço e a noção de que os serviços médicos são mais ou menos insensíveis à doença.
É isso - os serviços de saúde deveriam ser nacionalizados e as greves de quem trabalha na área da saúdes deveriam ser proibidas.
Em Portugal - e acho que no estrangeiro é o mesmo - apenas os estabelecimentos públicos prestam assistência médica condigna. Mas são insuficientes.
E os privados servem apenas para gerar lucros.
Vou morrer num dia destes, antes do tempo, não porque não lute pela vida mas porque não  consigo encontrar assistência médica condigna.
É mais fácil tratar do automóvel do que tratarmos de nós próprios em Portugal.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Tanto tempo

Passou muito tempo sobre a última mensagem.
A nossa preocupação era a divida pública.
Hoje constatamos que a dívida pública, como está administrada, foi um invento dos bancos centrais para salvar os bancos.
Se dessem aos particulares a oportunidade de emprestar dinheiro aos Estados os bancos iam á falência.

domingo, 21 de junho de 2015

Sobre a dívida pública e os depósitos bancários



            O meu avô, que era um homem sábio, combatente da I Grande Guerra, recomendou-me insistentemente que não guardasse as minhas economias no banco, quando, aos 18 anos, lhe disse que ia abrir uma conta bancária.
            Aliás, fez a mesma recomendação ao meu pai e  aos meus tios que também se estrearam nas relações bancárias por essa época (1969). Foi há muito pouco tempo, já tinham passado mais de 20 anos sobre o fim da II Guerra Mundial e ainda era muito forte  a desconfiança sobre a segurança dos depósitos bancários.
            No mercado, os bancos procuravam fidelizar clientes com contas de pré-aviso,  que garantiam um juro melhor se avisássemos de que íamos fazer um levantamento ou pagamento com x dias de antecedência.
            Sabia bem esse fruto civil a que chamam juros.
            Na minha Faculdade de Direito de Coimbra, em 1971, o Prof. Teixeira Ribeiro, que mais tarde veio  a ser vice-primeiro-ministro de Vasco Gonçalves (1975) ensinava-nos que era impossível fazer falir um banco, porque a especulação era muito reduzida e as normas prudenciais que regiam a atividade bancária, apesar de o Banco de Portugal ser um banco privado, eram muito apertadas.
            Em 1975, a seguir ao 11 de março, assistimos a um processo de nacionalização da Banca e sentimos, pela primeira vez que podia não ser seguro ter o dinheiro nos bancos. Foram então adotadas medidas restritivas , que limitavam o levantamento de dinheiro e a compra de moeda estrangeira.
            O escudo republicano era uma grande moeda de que tenho as maiores saudades.
            As primeiras notas portuguesas foram impressas ainda durante a monarquia.   Mas foi em 1910 que nasceu o escudo, iniciando-se uma política monetária que permitiu a construção de uma moeda forte e saudável.
            Quando o Estado não tinha dinheiro, o Banco de Portugal imprimia papel moeda e suportava o Tesouro; quando havia dinheiro a mais, o Banco de Portugal recolhia-o, reduzindo a moeda em circulação.
            A par do escudo circulavam no espaço português, moedas próprias em Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Macau e Timor, cada uma delas com os seu banco emissor  e o seu regime próprio, nomeadamente em termos de compensação.
            A relação do escudo com o dólar foi, durante muitos anos, uma relação muito estável. Um dólar eram 24 escudos.
            O euro, nascido em 1 de janeiro de 2002, nunca foi uma moeda estável.
            Na data do seu nascimento, 1 euro valia 0,8913 dólares.
            Um ano depois, em 1 de janeiro de 2003, valia 1,04 dólares, o que nos mostrava que haveria de ser uma moeda adequada a manipulação.
No dia 28 de fevereiro de 2014, o euro atingiu o seu máximo valor por relação ao dólar, que foi de 1,379.
            As moedas são essenciais para a vida das pessoas e das empresas e a flutuação dos seus valores assume uma relevância especialíssima no quadro da globalização, tornando especialmente vulneráveis os países que não tenham moeda própria.
            É certo que uma moeda única tem a enorme vantagem de eliminar os câmbio entre os diversos países que a adotam. Mas esse benefício tem um preço, que pode ser demasiado caro se não se tiver nenhuma influência na política monetária, como acontece com o euro.
            Por regra, os Estados afirmavam que a dívida pública se pagava em moeda corrente.
A criatividade a que assistimos após o nascimento do euro conduziu a que se introduzissem, no  quadro das finanças públicas, novos atores e novas figuras, com verdadeiras funções de soberania alternativa à dos Estados.
Exemplo disso é a importância dada às agências de rating, a favor de quem os Estados abdicaram de parte da sua soberania; como o são os contratos de swap, que introduzem em muitos contratos públicos formas de correção geradas na lógica do jogo ou azar.
O mais surpreendente é a constatação, neste momento em que o euro se aproxima do seu 14º ano e corre o risco de não chegar ao 15º, de que a política cambial pode ter sido desenvolvida de forma adequada a fazer crescer dívida pública e privada quando a mesma é calculada em dólares.
1 milhão de euros à taxa de  câmbio de 0,8913 são 891.300 dólares.
1 milhão de euros à taxa de  câmbio de 1,379 são 1.379.00 dólares.
Normalmente não pensamos que o nosso dinheiro perde valor quando se desvaloriza por relação a outras moedas.
Só para dar um pequeno exemplo, entre 1 de janeiro de 2014 (1,3785) e 1 de junho de 2015 (1,0987) o euro desvalorizou 20,29%.
Se estiver em causa uma dívida que tenha que ser paga em dólares é esse o crescimento da mesma em função da alteração cambial.
Mas o sistema do euro, tal como foi concebido, tem outras fragilidades, talvez mais delicadas.
A ideia de que o Banco Central deve ter uma política monetária cega e o princípio de que o Banco Central não deve financiar os Estados  transformou-os em reféns do sistema financeiro e dos mercados, em termos que podem gerar condições para o fim da moeda e da própria União Europeia.[1]
Há anos que previ que pudesse acontecer aquilo a que estamos a assistir, mas não imaginei que pudesse ser tão cedo.
Aquelas pessoas que acreditaram nas virtudes dos depósitos bancários e que aforraram, contando com o rendimento das suas poupanças guardadas nos bancos, estão absolutamente desiludidas, porque nada recebem e, nalguns casos até têm que pagar para o banco lhes guarde o dinheiro.
Os bancos, porque a economia parou e o risco cresceu  não conseguem gerar negócios e dedicaram-se à especulação  e ao negócio da dívida pública.
A garantia dos depósitos até 100.000 € é uma mentira legal, porque o Fundo não tem recursos para proceder ao pagamento.
Assistimos ao paradoxo de um país como Portugal ter uma dívida pública de 208.128 milhões de euros[2] que representa 120,27% do PIB e os “cofres cheiros” de dinheiro emprestado.
O segredo – e o aliciante – está no facto de o Banco Central Europeu emprestar dinheiro aos bancos à taxa de 0,05% e de que quem recorre aos bancos ter que pagar as taxa de mercado.
O dinheiro tem um preço variável, em função do chamado risco-país, que é manipulado pelas agências de rating e que favorece manifestamente os grandes devedores.
Eles desnatam completamente, em seu beneficio, os aforros dos bancos da zona monetária, fazendo financiar a divida pública dos países mais fortes a taxas muito baixas ou negativas e a divida dos mais fracos a taxas exorbitantes.
            Pensando naquele valor da dívida portuguesa a diferença é apenas esta: se Portugal pudesse financiar-se junto do BCE, pagaria juros de 104 milhões de euros por ano; se tiver que se financiar nos mercados e o conseguir a uma taxa de 3,5%, que é considerada muito baixa, o valor a pagar é de 7.284 milhões de euros anuais.
            E se, perante esta barbaridade, o País protestar e a taxa de juro subir para 12,5% o valor dos juros anuais passa a ser de 26.016 milhões de euros.
            Este quadro, que foi imaginado para proteger o sistema financeiro e criar um sistema financeiro forte pode  conduzir o sistema financeiro à derrocada.
            Se a Grécia declarar a bancarrota isso terá um impacto brutal em todo o sistema financeiro da zona euro.
Dúvidas não há de que euro não acabará de um momento para o outro. Mas podem registar-se perturbações  que dificultem as movimentação de fundos.
Foram recentemente anunciadas algumas medidas, a pretexto da necessidade de combate ao terrorismo, que servem objetivamente para criar dificuldades à movimentação de fundos.
Se forem criadas dificuldades à movimentação de valores depositados em bancos aumentará a preferência pela liquidez: o dinheiro terá valor para quem o tiver; não para quem o tiver bloqueado.
Só há, atualmente, uma motivação para ter dinheiro num banco: a da segurança. Só que essa segurança é ilusória, se forem criadas restrições à movimentação do valor dos depósitos.
Se se gerar um situação de desequilíbrio, a situação dos depositantes poderá não ser diferente da  dos investidores em papel comercial do GES, a quem foi garantido que aquelas aplicações eram tão seguras como os depósitos.
Perante o quadro de instabilidade para que fomos conduzidos, parece-me bem mais seguro levantar o dinheiro dos bancos e guardá-lo no colchão do que correr o risco de ter confiado a terceiros.



[1] A dívida total da União Europeia é de 11,382 mil biliões de euros, com a Alemanha à cabeça, com 2,147 mil biliões de euros. A divida pública da Itália é de 2,0692 mil biliões de euros e a da França de 1,7524 mil biliões de euros.
[2] Valores de 31 de dezembro de 2014. Fonte: Banco de Portugal

quarta-feira, 17 de junho de 2015

O perigo dos depósitos bancários

Na minha opinião não é minimamente seguro ter depósitos bancários na zona euro. Depois do que que aconteceu no caso BES, as declarações do governador do Banco de Portugal na Assembleia da República vêm confirmar que tudo é possivel. Perante isto -  e porque os bancos não pagam nada e usam a moeda para fins especulativos perversos - o mais seguro é guardar o dinheiro em notas.
O maior problema atual dos depositantes reside no facto de o seu dinheiro poder ser usado para financiar investidores de risco, para jogar na bolsa ou para especular.
Então nós não aceitamos correr esses riscos e somos tolinhos ao ponto de permitirmos que os outros o façam com o nosso dinheiro?

A ditadura europeia

A União Europeia está a transformar-se numa ditadura semelhante ao que foi a antiga União Soviética.
Os partidos comunistas foram reduzidos à ínfima espécie e seduzidos pelas regras da corte, que permite, no que se refere aos portugueses, receber, como os das outras cores, um valor mensal correspondente a cerca de 40 salários mínimos por mês.
Se for verdade que os mesmos devolvem ao partido a diferença entre o que ganham e o que ganhavam antes, temos que concluir que, pelo menos ganham influência, na medida em que enriquecem o partido.
Enquanto o Partido Socialista está falido (com um passivo acumulado de 11 milhões de euros), o Partido Comunista tem uma tesouraria folgada, com excedente de alguns milhões de euros.
Os partidos socialistas e social-democratas, que constituíam a espinha da União Europeia com que sonhou a minha geração, estão hoje completamente amorfizados, fugindo das questões centrais da Política como o diabo da cruz.
Estamos, de novo, numa fase de política anedótica, semelhante à da de Brejnev, na União Soviética.
O Partido tinha sempre razão.
Hoje, a Comissão Europeia e o Conselho Europeu reclamam um estatuto idêntico, por mais imbecis que sejam os seus projetos e as suas ideias.
Do mesmo modo que o Partido Comunista da União Soviética mentia escandalosamente nas interpretações que fazia dos planos quinquenais, também mentem agora, de forma descarada, as referidas entidades e quase todos os governos da União.
O modo como está a ser tratado o "caso grego" é sintomático.
Os gregos elegeram um governo e aprovaram uma política e as autoridades europeias tudo vêm fazendo para o destruir, como se fosse um mérito trair as promessas eleitorais.
A Grécia tem uma divida enorme, que vem crescendo, especialmente, desde 2008.
Em 2009, a dívida pública grega atingiu os 300 mil milhões de euros, o que representava 113% do PIB.
Em 2011 o valor da dívida subiu para 170,3% do PIB, descendo para 157,2% em 2012 e subindo de novo para 175,1% em 2013.
Os jornais noticiaram que os credores perdoaram à Grécia 50% da dívida, em 2011, convertendo-se a mentira em verdade com tanta repetição. A redução da dívida foi de, apenas, 13,1% e foi absolutamente efémera, pois que a divida voltou a crescer para a cota dos 175,1% no final de 2013.
Os números conhecidos da dívida grega aproximam-se dos 240.000 milhões de euros.
O que o governo grego vem dizendo, há meses, é que pretende chegar a um entendimento com os credores para a definição de um plano sustentável de pagamento da dívida, que evite a especulação sobre juros e o seu permanente crescimento.
O PIB grego era de 251.500 milhões de euros em 2008, tendo caído para 171.800 mil milhões em 2013.
Os juros de uma dívida de 240.000 milhões de euros, à taxa de 0,05%, que é a taxa de referência do Banco Central Europeu, totalizam, por ano 120 milhões de euros.
Porém, se as taxas de juro aplicáveis à dívida forem os do mercado, tomando em consideração, as taxas de 12% verificadas em junho de 2015,  temos um outro valor, completamente distinto: 28.800 milhões.
Por mais que isto desagrade aos ortodoxos desta Europa decadente, parece-me que não faz nenhum sentido que os bancos, na sua maior parte falidos ou envolvidos em práticas irregulares, possam financiar-se junto do BCE a taxa de 0,05% e que os Estados, que abdicaram a soberania monetária, se financia no mercado a taxas que não têm limites.
Isto é tanto mais relevante quanto é certo que os "apparatchik" produziram uma engenharia financeira que remunera as poupanças das pessoas e das famílias com taxas negativas e permite às instituições financeiras níveis de alavancagem que transformam as taxas de juros dos mercados em taxas que, em boa verdade, já são taxas de 3 dígitos,  se as calcularmos sobre a moeda.
A situação a Grécia, no plano da dívida,  não é muito diferente da de Portugal.
Segundo o Expresso (9 de maio de 2015) a dívida externa bruta portuguesa (pública e privada) atingiu, no fim de 2014, o 406.000 milhões de euros, que correspondem a 235% do PIB, tendo-se agravado em 21.200 milhões nesse exercício.
No que se refere à divida pública portuguesa, temos os seguintes valores, segundo o Banco de Portugal, por referência a 31 de dezembro:
  • 2010 : 158.736 milhões de €
  • 2011 : 170.904 milhões de €
  • 2012 : 187.900 milhões de €
  • 2013 : 196.304 milhões de €
  • 2014 : 208.128 milhões de €
Ao contrário do que é afirmado pelos políticos portugueses,  a dívida pública cresceu 32 224 mil euros, ou seja 21,78% entre 2011 e 2014.
De outro lado, o PIB português teve a seguinte evolução, segundos dados do PORDATA:
  • 2010: 179.929 milhões de €
  • 2011: 176.166 milhões de €
  • 2012: 168.394 milhões de €
  • 2013: 169.394 milhões de €
  • 2014: 173.053 milhões de €
Desde 2010, o PIB caiu até 2013, estando ainda por recuperar o montante de 6.876 mil milhões, para compensar as perdas entre 2010 e 2014.
Em termos de evolução por relação PIB temos os seguintes valores para a dívida portuguesa:

  • 2010: 88,22%
  • 2011: 97,01%
  • 2012: 111,58%
  • 2013: 115,89%
  • 2014: 120,27%
Só poderemos rir ou chorar quando ouvimos os governantes portugueses e europeus dizer que o País está melhor do que em 2011. Os números evidenciam o contrário.

Do mesmo modo, não merece outra etiqueta a afirmação a ministra das Finanças de Portugal, assegurando que tem os cofres cheios, ou do primeiro ministro Passos Coelho, que garante que tem "reservas suficientes" para manter o País à tona.

Nada disto é sério.

O que seria razoável é que se fixasse um prazo para o pagamento das dividas soberanas, com um juro calculado à taxa de referência do Banco Central Europeu (0,05%).
Imaginemos o caso da Grécia. O pagamento de 240.000 milhões de euros num prazo de 30 anos implicaria uma obrigação anual de 8.060 milhões de euros por ano, ou 671,6 milhões mensais.

No que se refere à divida pública portuguesa, tomando em consideração uma divida de 173.053  milhões de euros, teríamos, para um pagamento a 30 anos, uma obrigação anual de 5.811 milhões de euros ou uma prestação mensal de apenas 484,3 milhões.

Não haveria nisto nenhuma favor - apenas um tratamento aos Estados, semelhante ao que é dado aos bancos e entidades financeiras.

O problema é outro e é claro: só no que se refere às dividas públicas da Grécia e de Portugal  temos um total de 413.000 milhões de euros.

Os juros anuais sobre esse montante são de 41.300 milhões se houver crise que motive os mercados e os fixe em 10%. E isso permite um lucro de (pelo menos)  41.093 milhões pois que o custo do financiamento junto do BCE é de apenas 206,5 milhões...

Só se viam coisas destas nos países comunistas da esfera soviética.

Parece-me insustentável que os Estados que renunciaram à soberania monetária possam suportar a exploração a que estão sujeitos.

Os gregos têm, obviamente, razão.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

O fantasma da Ópera

Como relembra Leroux, a Ópera esta construída sobre um pântano e foi no pântano que se gerou o fantasma, que, ao longo de anos foi provocando acidentes.
Deu cabo de muita coisa, queimou barcos, destruiu searas, queimou casas, enganou os empregados da Ópera quando eles deixaram de acreditar na banca onde colocavam o dinheiro, lançou a confusão entre todos os que frequentavam o espaço montado sobre aquele grande lençol de água, de que releva a própria natureza do pântano.
Descobriu-se, um dia, que o fantasma tinha chantageado dois administradores da Ópera, exigindo-lhes o pagamento de 20.000 francos mensais, compensando a reserva forçada do camarote número cinco.
Cristina ameaçava ter sucesso e destruir Carlota, a diva consolidada desde a primeira atuação. Acreditava ela que tinha dentro de si o Anjo da Música, enviado por seu pai, depois da morte.
À medida que o sucesso parecia crescer, Cristina foi descobrindo que  o anjo tinha uma máscara, encobrindo o fantasma, o horrível Erik, que era o contrário de tudo o que ele dizia e de tudo o que todos conseguiam ver.
Erik prendeu-a e prendeu-lhe o sucesso dizendo que somente a deixará partir se ela prometer não amar ninguém além dele e juntar-se a ele.
Cristina amava Raul, mas estava fascinada pelo fantasma do seu sucesso. Forçada a opções, cogitou casar em segredo com Raul e fugir da Ópera, apesar do sucesso. Mas o fantasma descobriu, e raptou Cristina do palco, quanto ela atuava no Fausto de Gounod.
Os aposentos de Erik, o fantasma, eram nos baixos frios da Ópera, para onde ele convocou Raul.
Cristina e Raul enlouqueceram na câmara de suplícios sob o olhar de Erik, o fantasma,  chegando a iniciar o enforcamento com o laço de Punjab
O fantasma Erik ameaçou matar todos os operários e artistas e destruir a Ópera, se Cristina não optasse por ele, como aconteceu naturalmente, numa tentativa de salvar a vida a todas as outras pessoas.
Ela prometeu-lhe casar com ele, se libertasse o Persa e Raul da câmara dos suplícios. Erik, o fantasma, soltou o Persa mas manteve Raul, enclausurado no ponto mais distante dos local mais distante dos subterrâneos da Ópera.
Erik regressou à câmara onde se encontrava Cristina e encontrou-a vestida de noiva. Deu-lhe um beijo na testa e ela, resignada, aceitou-o placidamente, sem lhe mostrar medo.
O fantasma, que pela primeira vez constatou que foi tratado sem rejeição, enebriou-se, começou a chorar e disse a Cristina que podia ir embora e casar com Raul, o homem que ela amava.
Ele, o fantasma  Erik, não passaria de um cachorro aos seus pés, no que logo se transformou.
Cristina e Raul casaram e partiram para não mais serem vistos e o fantasma da Ópera morreu passadas três semanas. O Persa fez publicar um anúncio na página habitual do Diário de Noticias.
A emigração não é um mito urbano em Portugal.
O fantasma da Ópera é um mito urbano em todo o mundo ocidental.

Não sei porque me lembrei disto quando ouvia o discurso de Cavaco Silva.

domingo, 4 de maio de 2014

Falta de vergonha na cara

Antigamente, ensinava-se às crianças que elas deveriam tapar as vergonhas que ambos os sexos tinham entre as pernas.
Mais tarde, os pais e os avós procuravam ensinar-lhe uma coisa bem mais difícil, que é a de cultivar a vergonha na cara.
Ter vergonha na cara - dizia-me o meu avô Mateus, olhando-me olhos nos olhos com os seus olhos azuis - é "a gente poder olhar assim, sem desviar o olhar".
Por regra, os que perderam a outra vergonha olham de lado - dizia ele.
Não há mulher adúltera nem homem ou mulher enganada que seja seja capaz de olhar de frente, a não que tenha perdido a vergonha na cara.
Depois, falava-nos sempre da verdade e da mentira, essa que qualificava como "erva ruim, que deixa mau sabor na boca".
Quem mente - não é capaz de olhar de frente, a não ter que tenha perdido a essência da vergonha -  essa da vergonha na cara.
Vieram-me estas recordações do meu saudoso avô à memória, a propósito do discurso de Pedro Passos Coelho, anunciando que chamou de "saída limpa".
Enorme mentira essa, que não saímos de nada, continuando num sarilho de 9 varas, agravado pelas perversas noticias de que temos dinheiro emprestado para gastar durante um ano, qualquer coisa como 15 mil milhões de euros.
Significa isso que pedimos emprestados mais 15 mil milhões do que o que o País necessitava.
Não se trata de moeda, mas de crédito.
Os bancos vão buscar moeda ao Banco Central à taxa de 0,25% ao ano e colocam o crédito no mercado na casa dos 4%, mais as devidas comissões.
Significa isso que o Governo vai pagar de juros, por esse stock de crédito,  qualquer coisa como 600 milhões de euros por ano, o que dá a módica quantia de  1.643,835,62 euros por dia e 68.493,15 euros por hora, contando-as 24, dia e noite.
O mais interessante é que para fabricar os 15.000 milhões de crédito, os bancos de alguns países precisam de, apenas,  9% de moeda, ou seja, precisamente, 1.350 milhões de euros, o que lhes custa apenas 3,375 milhões por ano e 9.246,58 euros por dia.
Ou seja: uma hora de juros que o governo vai pagar, dará para os bancos pagarem juros de cerca de 7 dias e meio.
Vem isto tudo a propósito do negócio do "stress" dos bancos.
Grande negócio.
Os únicos que ficam stressados são os contribuintes.
É preciso que os governantes não tenham um mínimo de vergonha na cara.