domingo, 4 de maio de 2014

Falta de vergonha na cara

Antigamente, ensinava-se às crianças que elas deveriam tapar as vergonhas que ambos os sexos tinham entre as pernas.
Mais tarde, os pais e os avós procuravam ensinar-lhe uma coisa bem mais difícil, que é a de cultivar a vergonha na cara.
Ter vergonha na cara - dizia-me o meu avô Mateus, olhando-me olhos nos olhos com os seus olhos azuis - é "a gente poder olhar assim, sem desviar o olhar".
Por regra, os que perderam a outra vergonha olham de lado - dizia ele.
Não há mulher adúltera nem homem ou mulher enganada que seja seja capaz de olhar de frente, a não que tenha perdido a vergonha na cara.
Depois, falava-nos sempre da verdade e da mentira, essa que qualificava como "erva ruim, que deixa mau sabor na boca".
Quem mente - não é capaz de olhar de frente, a não ter que tenha perdido a essência da vergonha -  essa da vergonha na cara.
Vieram-me estas recordações do meu saudoso avô à memória, a propósito do discurso de Pedro Passos Coelho, anunciando que chamou de "saída limpa".
Enorme mentira essa, que não saímos de nada, continuando num sarilho de 9 varas, agravado pelas perversas noticias de que temos dinheiro emprestado para gastar durante um ano, qualquer coisa como 15 mil milhões de euros.
Significa isso que pedimos emprestados mais 15 mil milhões do que o que o País necessitava.
Não se trata de moeda, mas de crédito.
Os bancos vão buscar moeda ao Banco Central à taxa de 0,25% ao ano e colocam o crédito no mercado na casa dos 4%, mais as devidas comissões.
Significa isso que o Governo vai pagar de juros, por esse stock de crédito,  qualquer coisa como 600 milhões de euros por ano, o que dá a módica quantia de  1.643,835,62 euros por dia e 68.493,15 euros por hora, contando-as 24, dia e noite.
O mais interessante é que para fabricar os 15.000 milhões de crédito, os bancos de alguns países precisam de, apenas,  9% de moeda, ou seja, precisamente, 1.350 milhões de euros, o que lhes custa apenas 3,375 milhões por ano e 9.246,58 euros por dia.
Ou seja: uma hora de juros que o governo vai pagar, dará para os bancos pagarem juros de cerca de 7 dias e meio.
Vem isto tudo a propósito do negócio do "stress" dos bancos.
Grande negócio.
Os únicos que ficam stressados são os contribuintes.
É preciso que os governantes não tenham um mínimo de vergonha na cara.

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