quarta-feira, 17 de junho de 2015

A ditadura europeia

A União Europeia está a transformar-se numa ditadura semelhante ao que foi a antiga União Soviética.
Os partidos comunistas foram reduzidos à ínfima espécie e seduzidos pelas regras da corte, que permite, no que se refere aos portugueses, receber, como os das outras cores, um valor mensal correspondente a cerca de 40 salários mínimos por mês.
Se for verdade que os mesmos devolvem ao partido a diferença entre o que ganham e o que ganhavam antes, temos que concluir que, pelo menos ganham influência, na medida em que enriquecem o partido.
Enquanto o Partido Socialista está falido (com um passivo acumulado de 11 milhões de euros), o Partido Comunista tem uma tesouraria folgada, com excedente de alguns milhões de euros.
Os partidos socialistas e social-democratas, que constituíam a espinha da União Europeia com que sonhou a minha geração, estão hoje completamente amorfizados, fugindo das questões centrais da Política como o diabo da cruz.
Estamos, de novo, numa fase de política anedótica, semelhante à da de Brejnev, na União Soviética.
O Partido tinha sempre razão.
Hoje, a Comissão Europeia e o Conselho Europeu reclamam um estatuto idêntico, por mais imbecis que sejam os seus projetos e as suas ideias.
Do mesmo modo que o Partido Comunista da União Soviética mentia escandalosamente nas interpretações que fazia dos planos quinquenais, também mentem agora, de forma descarada, as referidas entidades e quase todos os governos da União.
O modo como está a ser tratado o "caso grego" é sintomático.
Os gregos elegeram um governo e aprovaram uma política e as autoridades europeias tudo vêm fazendo para o destruir, como se fosse um mérito trair as promessas eleitorais.
A Grécia tem uma divida enorme, que vem crescendo, especialmente, desde 2008.
Em 2009, a dívida pública grega atingiu os 300 mil milhões de euros, o que representava 113% do PIB.
Em 2011 o valor da dívida subiu para 170,3% do PIB, descendo para 157,2% em 2012 e subindo de novo para 175,1% em 2013.
Os jornais noticiaram que os credores perdoaram à Grécia 50% da dívida, em 2011, convertendo-se a mentira em verdade com tanta repetição. A redução da dívida foi de, apenas, 13,1% e foi absolutamente efémera, pois que a divida voltou a crescer para a cota dos 175,1% no final de 2013.
Os números conhecidos da dívida grega aproximam-se dos 240.000 milhões de euros.
O que o governo grego vem dizendo, há meses, é que pretende chegar a um entendimento com os credores para a definição de um plano sustentável de pagamento da dívida, que evite a especulação sobre juros e o seu permanente crescimento.
O PIB grego era de 251.500 milhões de euros em 2008, tendo caído para 171.800 mil milhões em 2013.
Os juros de uma dívida de 240.000 milhões de euros, à taxa de 0,05%, que é a taxa de referência do Banco Central Europeu, totalizam, por ano 120 milhões de euros.
Porém, se as taxas de juro aplicáveis à dívida forem os do mercado, tomando em consideração, as taxas de 12% verificadas em junho de 2015,  temos um outro valor, completamente distinto: 28.800 milhões.
Por mais que isto desagrade aos ortodoxos desta Europa decadente, parece-me que não faz nenhum sentido que os bancos, na sua maior parte falidos ou envolvidos em práticas irregulares, possam financiar-se junto do BCE a taxa de 0,05% e que os Estados, que abdicaram a soberania monetária, se financia no mercado a taxas que não têm limites.
Isto é tanto mais relevante quanto é certo que os "apparatchik" produziram uma engenharia financeira que remunera as poupanças das pessoas e das famílias com taxas negativas e permite às instituições financeiras níveis de alavancagem que transformam as taxas de juros dos mercados em taxas que, em boa verdade, já são taxas de 3 dígitos,  se as calcularmos sobre a moeda.
A situação a Grécia, no plano da dívida,  não é muito diferente da de Portugal.
Segundo o Expresso (9 de maio de 2015) a dívida externa bruta portuguesa (pública e privada) atingiu, no fim de 2014, o 406.000 milhões de euros, que correspondem a 235% do PIB, tendo-se agravado em 21.200 milhões nesse exercício.
No que se refere à divida pública portuguesa, temos os seguintes valores, segundo o Banco de Portugal, por referência a 31 de dezembro:
  • 2010 : 158.736 milhões de €
  • 2011 : 170.904 milhões de €
  • 2012 : 187.900 milhões de €
  • 2013 : 196.304 milhões de €
  • 2014 : 208.128 milhões de €
Ao contrário do que é afirmado pelos políticos portugueses,  a dívida pública cresceu 32 224 mil euros, ou seja 21,78% entre 2011 e 2014.
De outro lado, o PIB português teve a seguinte evolução, segundos dados do PORDATA:
  • 2010: 179.929 milhões de €
  • 2011: 176.166 milhões de €
  • 2012: 168.394 milhões de €
  • 2013: 169.394 milhões de €
  • 2014: 173.053 milhões de €
Desde 2010, o PIB caiu até 2013, estando ainda por recuperar o montante de 6.876 mil milhões, para compensar as perdas entre 2010 e 2014.
Em termos de evolução por relação PIB temos os seguintes valores para a dívida portuguesa:

  • 2010: 88,22%
  • 2011: 97,01%
  • 2012: 111,58%
  • 2013: 115,89%
  • 2014: 120,27%
Só poderemos rir ou chorar quando ouvimos os governantes portugueses e europeus dizer que o País está melhor do que em 2011. Os números evidenciam o contrário.

Do mesmo modo, não merece outra etiqueta a afirmação a ministra das Finanças de Portugal, assegurando que tem os cofres cheios, ou do primeiro ministro Passos Coelho, que garante que tem "reservas suficientes" para manter o País à tona.

Nada disto é sério.

O que seria razoável é que se fixasse um prazo para o pagamento das dividas soberanas, com um juro calculado à taxa de referência do Banco Central Europeu (0,05%).
Imaginemos o caso da Grécia. O pagamento de 240.000 milhões de euros num prazo de 30 anos implicaria uma obrigação anual de 8.060 milhões de euros por ano, ou 671,6 milhões mensais.

No que se refere à divida pública portuguesa, tomando em consideração uma divida de 173.053  milhões de euros, teríamos, para um pagamento a 30 anos, uma obrigação anual de 5.811 milhões de euros ou uma prestação mensal de apenas 484,3 milhões.

Não haveria nisto nenhuma favor - apenas um tratamento aos Estados, semelhante ao que é dado aos bancos e entidades financeiras.

O problema é outro e é claro: só no que se refere às dividas públicas da Grécia e de Portugal  temos um total de 413.000 milhões de euros.

Os juros anuais sobre esse montante são de 41.300 milhões se houver crise que motive os mercados e os fixe em 10%. E isso permite um lucro de (pelo menos)  41.093 milhões pois que o custo do financiamento junto do BCE é de apenas 206,5 milhões...

Só se viam coisas destas nos países comunistas da esfera soviética.

Parece-me insustentável que os Estados que renunciaram à soberania monetária possam suportar a exploração a que estão sujeitos.

Os gregos têm, obviamente, razão.

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